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REFLEXÃO INDIVIDUAL FINAL
DISCENTE: Mónica Bastos
CURRICULO E DESENVOLVIMENTO CURRICULAR
O currículo, em educação, não pode ser entendido com algo estanque e completamente pré-determinado. Neste sentido o currículo deverá ser interpretado como o guia orientador de um processo dinâmico, em constante evolução e é adaptável a diferentes contextos e intervenientes.
Algumas definições poderão apontar para um plano ou programa de conteúdos a seguir, devidamente estruturado com base no objetivo final. No entanto deveremos utilizá-lo como um guia mentor ou como um “plano de intenções”.
Existem muitas e diversas definições sobre currículo. Segundo Ribeiro (1999), por exemplo, pode ser definido como “um conjunto estruturado de matérias e de programas de ensino num determinado nível de escolaridade, ciclo ou domínio de estudos”.
Por não dever ser interpretado como um plano fixo, o conceito de projeto, no seu sentido mais amplo e dinâmico, tem ganho força atualmente.
De acordo com Pacheco (2001): “ (…) um projeto, cujo processo de construção e desenvolvimento é interativo, que implica unidade, continuidade e interdependência entre o que se decide a nível do plano normativo, ou oficial, e ao nível do plano real, ou do processo de ensino - aprendizagem. (…) o currículo é uma prática pedagógica que resulta na interação e confluência de várias estruturas (políticas, administrativas, económicas, culturais, sociais, escolares…) na base das quais existem interesses concretos e responsabilidades partilhadas.”
Desta definição, poderemos melhor entender a verdadeira natureza construtiva e mutável do currículo.
Alguns autores, referem também a ideia do “currículo oculto”, referindo-se à influência dos fatores externos como o ambiente escolar e que, não fazendo parte do currículo oficial, contribuem para aprendizagens relevantes.
Em contexto escolar, existe para cada disciplina o currículo oficial, determinado pela administração Central do Sistema Educativo.
No entanto, a existência do chamado currículo informal é considerado de grande importância promovendo o enriquecimento do currículo escolar. Aqui são consideradas diversas atividades desenvolvidas na ou pela Escola e que visam o desenvolvimento de competências sociais, intelectuais, criativas, físicas, entre outras.
Existe, de facto, a necessidade de uma certa uniformização de conteúdos programáticos a nível nacional, mas respeitando a individualidade de cada aluno e de cada contexto escolar.
Na construção de um currículo, existe uma análise prévia e de certa forma subjetiva de qual o conhecimento e consequentemente, quais os conteúdos que deverão ser considerados relevantes. Também estes conhecimentos vão-se alterando numa sociedade em constante e rápida dança. Daí a necessidade constante de refazer e ajustar os currículos ao longo do tempo.
O desenvolvimento curricular é associado à ideia de processo dinâmico e contínuo.
Segundo Pacheco (2001), o termo desenvolvimento curricular é utilizado para expressar uma prática, dinâmica e complexa, processada em diversos momentos de modo a formar um conjunto estruturado com quatro componentes fundamentais: justificação teórica, elaboração/planificação, operacionalização e avaliação.
O desenvolvimento curricular é associado a um processo de construção do currículo específico, o que implica uma reflexão baseada no contexto onde irá ser aplicado.
Na construção de um currículo, deverão ser perspetivados diferentes níveis de competências: competências essenciais (próprias de cada disciplina); competências transversais (atravessam as diferentes disciplinas) e competências gerais (relaciona a escola com o meio e com o mundo.
Segundo Zabalza (2000), o desenvolvimento do currículo apresenta alguns princípios básicos:
§ principio da realidade – dar espaço à programação curricular realizada na escola de acordo com a realidade da mesma;
§ princípio da racionalidade – o currículo desenvolvido de forma deligenciada por parte da docente de forma a fomentar experiências significativas por parte do aluno;
§ princípio da sociabilidade – o currículo assenta na medição da diversidade excetuando a integração social dos/das alunos/as;
§ princípio da publicidade – o currículo torna o intento, as ações convertendo a educação em algo público, comunicável e controlável;
§ princípio da intencionalidade – para que o currículo seja almejado analisando-se dados e adotam-se decisões no sentido de corresponder às proposições anunciadas;
§ princípio da organização ou sistematicidade – baseado na consonância entre componentes do currículo de modo a que este funcione como um todo integrado;
§ princípio da seletividade – o currículo é um sistema de seleção que deve corresponder a critérios de valor, oportunidade, congruência e funcionalidade situacional;
§ princípio da decisionalidade -
Nos últimos anos têm-se assistido em Portugal a uma evolução na forma de encarar os currículos procurando ultrapassar a lógica uniformizadora e centralista que caracterizou o currículo do ensino básico em décadas anteriores. Desde 1997, o Departamento da Educação básica do Ministério da Educação lançou o projeto da gestão flexível do currículo, proporcionando uma maior autonomia para escolas e professores.
Apesar de o currículo nacional ser da responsabilidade do Ministério da Educação, é concedida a liberdade para que o estabelecimento de ensino possa alterar a ordem dos conteúdos, atribuir diferentes graus de importância e incluir algumas componentes locais (Marques & Roldão, 1999).
Uma perspetiva que tem ganho dimensão significativa, prende-se com a ideia de diferenciação curricular, adequando-se e construindo desta forma o currículo de acordo com as especificidades e individualidades dos alunos.
Segundo Sousa (2010), a diferenciação curricular adequada aos alunos pressupõe uma dimensão deliberativa que tende a veicular um currículo realizado em função de alunos concretos, cujas características requerem, pela sua diversidade, respostas curriculares diferenciadas.
A diferenciação curricular tem sido cada vez mais considerada como uma resposta à crescente diversidade de alunos que caracteriza a escola contemporânea. A ideia de que, para proporcionar igualdade de oportunidades se deve dar exatamente os mesmos conteúdos e da mesma forma a todos os alunos parece ultrapassada, sendo que alunos diferentes apresentam necessidades e ritmos de aprendizagem diferentes que deverão ser respeitados numa escola verdadeiramente para todos.
AVALIAÇÃO
A avaliação no ensino é uma questão muito complexa, em permanente discussão e reformulação.
“A avaliação é um elemento integrante e regulador das práticas pedagógicas, mas assume também uma função de certificação das aprendizagens realizadas e das competências desenvolvidas” (Abrantes, 2001).
As estratégias que visam melhorar a qualidade do ensino, assim como a confiança social quanto ao funcionamento do sistema educativo advêm da avaliação que se faz do processo educativo e das aprendizagens.
Avaliar o processo de ensino aprendizagem é fundamental para alocar os escassos recursos de forma a potenciar um ensino de qualidade num quadro de escassez económica. Num passado recente os políticos atiravam dinheiro para resolver problemas, se uma escola tinha um elevado insucesso escolar, criavam-se uns quantos grupos de trabalho, contratavam-se mais psicólogos, assistentes sociais, animadores socioculturais e comprava-se uma aparelhagem e desta forma o insucesso diminuía. De fato diminuía, também só podia diminuir com a quantidade de recursos disponibilizados. Não era efetuada uma análise de custo benefício. Hoje nada disto é possível e daí o processo de avaliação ser ainda mais relevante, pois será através dos resultados da avaliação do processo de ensino aprendizagem que se tomará consciência da ação necessária para adequar e estabelecer a progressão das aprendizagens, bem como para melhorar os aspetos organizativos e a racionalização dos recursos utilizados.
A avaliação envolve interpretação, ponderação, informação e decisão sobre os processos de ensino e aprendizagem, tendo como principal função ajudar a promover ou melhorar a formação dos alunos" (Abrantes, 2001)
A avaliação está intrinsecamente ligada a um conjunto de princípios, que deverão ser observados para tornar a avaliação congruente, nomeadamente: a utilização de instrumentos de avaliação diversificados ajustados aos objetivos curriculares e à pedagogia utilizada com os alunos; a focalização na avaliação formativa como forma de evidenciar e corrigir os aspetos em que as aprendizagens dos alunos não foram bem conseguidas e de modo a superar essas deficiências levando em conta os interesses e aptidões dos alunos; a necessidade de conquistar a confiança social quanto ao funcionamento do sistema educativo mais propriamente quanto à fiabilidade dos dados da avaliação que a escola transmite envolvendo neste processo e chamando à escola não só os alunos, mas também os encarregados de educação.
Se num passado recente a ideia de avaliação se confundia com a ideia de medida, hoje tendencialmente este postulado tende a esmorecer e o professor coloca a avaliação dentro do próprio processo de aprendizagem. Só de mãos dadas, processo de aprendizagem e avaliação, fará sentido a própria avaliação quer no plano pedagógico quer no plano social.
A avaliação está intrinsecamente ligada a um conjunto de princípios, que deverão ser observados para tornar a avaliação congruente, nomeadamente: a utilização de instrumentos de avaliação diversificados ajustados aos objetivos curriculares e à pedagogia utilizada com os alunos; a focalização na avaliação formativa como forma de evidenciar e corrigir os aspetos em que as aprendizagens dos alunos não foram bem conseguidas e de modo a superar essas deficiências levando em conta os interesses e aptidões dos alunos; a necessidade de conquistar a confiança social quanto ao funcionamento do sistema educativo mais propriamente quanto à fiabilidade dos dados da avaliação que a escola transmite, envolvendo neste processo e chamando à escola não só os alunos, mas também os encarregados de educação.
DIMENSÕES DO PERFIL GERAL DE DESEMPENHO DO DOCENTE
O perfil geral de desempenho consagrado no DL 240/2001, 30 agosto 2001, refere que de facto existem vários pontos comuns ao perfil dos professores de diferentes níveis de ensino, no que diz respeito às habilidades profissionais docentes.
Em geral, o professor transmite e promove aprendizagens, resultado de um conhecimento específico que desenvolveu ao longo da sua formação. Enquanto profissional de educação, desempenha a função de ensinar, desenvolvendo as suas competências através de investigação e reflexão das práticas educativas. Exerce a sua atividade na escola, baseando-se num currículo orientador que pretende garantir aos alunos um vasto conjunto de aprendizagens de caráter intelectual, social, cultural e afetivo.
Procura, também, desenvolver a capacidade de autonomia dos alunos e favorecer a sua inclusão social, bem como garantir o bem-estar dos alunos no processo educativo e o desenvolvimento das suas identidades. Neste contexto, respeita as diferenças sociais, culturais e pessoais dos alunos e de toda a comunidade escolar.
O professor apresenta, ainda, a capacidades de comunicação e de relação interpessoal em vários contextos da sua situação profissional, interagindo com alunos, professores, diretores de turma, direção escolar, pessoal não docente e encarregados de educação.
Desenvolve as suas ações integradas e de acordo com os projetos curriculares de turma, e promove estratégias pedagógicas diferenciadas, procurando o sucesso de cada aluno. Através da avaliação, regula a qualidade do ensino, da aprendizagem e das suas estratégias.
Expande a sua atividade integrando a escola e a comunidade envolvente bem como os diferentes intervenientes do processo educativo, cultivando um ambiente de respeito, cooperação e integração.
Apesar da sua formação de base, o professor deve procurar sempre a atualização dos seus conhecimentos, investindo numa formação contínua. Paralelamente deve refletir sobre a sua prática, realizando uma constante autoavaliação quer no que diz respeito aos seus conhecimentos quer no que diz respeito aos métodos de ensino usados. Deverá considerar também o trabalho em equipa numa perspetiva de partilha de saberes, enriquecendo assim os seus conhecimentos e evoluindo enquanto docente.
CONCLUSÃO
Em suma, o currículo é essencialmente um guia orientador, que deve ser visto como uma ferramenta, ferramenta essa, que deverá ser adaptada ao meio envolvente e às características de cada aluno.
A inclusão do aluno implica o desenvolvimento de ações adaptativas do curriculo, propondo-se a sua flexibilização, para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, e atender as suas necessidades individuais.
A avaliação, por sua vez, pode ser considerada um processo multidirecional que regula o processo de ensino- aprendizagem.
O professor, por sua vez, desempenha um papel de mediador entre as suas próprias competências e as necessidades e saberes do aluno.
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